domingo, 13 de setembro de 2009

Essa e aquela mulher

Sabe aquela mulher que quando chega todos param para vê-la? Ela era esse tipo de mulher. O salão estava cheio. Algumas mesinhas no canto. Um grande espaço para dançar onde ficava a banda em um pequeno palco. Os corpos já flutuavam pelo salão. A banda tocava aquele samba. Os pés não queriam parar. As mãos com seus copos de cerveja quase caindo iam para todos os lados. A pilha de guardanapos cada vez mais ia crescendo com os pedidos das músicas que as pessoas deixavam ali em cima do palco. A música jamais parava de tocar e todos sabiam que não ia parar, só até o galo cantar. Era uma noite animada.
Então, ela chega. E todos já percebem que ela chegou. Uma cor de pele com gosto do anoitecer, olhos bem meigos, mas muito bem abertos, concentrados, penetrantes, desafiadores. Dá um arrepio e assusta só de pensar nesse olhar. Tinha um cabelo enrolado que subia para o céu. Ela tinha uma bunda linda que abraçava seu corpo. Sua pose ereta, com a ajuda de um salto, elevava seu espírito. Ela estava pronta para dominar qualquer um que chegasse. Porém, essa mulher não me engana. Os homens já olhavam com certo calor. Os olhos deles acompanhavam seu gingado pelo salão, ela só foi pegar uma cerveja no balcão. Todos eles esperavam o momento certo. Aquela mulher observava tranquila o salão. Podia ter qualquer homem. Podia ter qualquer um. Ela sabia disso. Isso nunca foi problema. Era apenas um problema de escolher. Era uma noite tranquila. Essa mulher não engana.
Depois do copo de cerveja, ela de fininho chegou até a banda e deixou um guardanapo com um pedido. Foi para o meio da pista e começou a sambar. Ela não ia parar. Era o momento que todos os homens estavam esperando. Eles não iam tirar os olhos dela. Cada vez mais ela atrai a presença de pessoas e olhares. E um sorriso sensual saiu da sua boca. Ela continuava a sambar. Não tinha coisa melhor. Era a vida tomando conta de seus pés, às vezes, até se esquecia de estar ali. Fechava os olhos e mergulhava dentro de seus sonhos mais íntimos. Não sentia a dor nos calcanhares, nem o cansaço dos músculos, apenas sambava e viajava em sua aventura gostosa. Mas, depois ela percebia que estava ali. Um gosto amargo ficava na boca. E todos os homens não paravam de olhá-la. E vinha aquela amargura dessa vingança eterna. Seus olhos se abriam demais, e depois ganhavam um tom matador. Essa mulher não me engana. Ela tinha tudo. Estava tudo em suas mãos. Nada mais importava. A situação sempre em seu controle, depois que ela requebrava até o chão. O suor caindo pelo o seu rosto fez ela pegar outra cerveja quase sem parar de dançar. E os homens iam se aproximando querendo tirar uma casquinha dessa mulher. Ela brincava com eles. Queria que eles brigassem para ficar com ela. Queria que eles fizessem tudo por ela. Queria que eles disputassem cada migalha. E quem sabe ela ofereceria alguma coisa. Ela se divertia. Dava gargalhadas. Depois era só decidir quem ia para casa com ela. Mas aquela mulher não me engana. Ela descobriu isso quando nossos olhos se encontraram. Com um olhar fixo nos olhos dela, ela se assustou. Via uma menina. Via uma mulher. Fechou os olhos para encontrar aquele sonho perdido nas estradas da vida. E percebeu que não tinha parado de sambar. Então, devagarzinho, ela abriu os olhos, e com um desespero latente, com o olhar cheio de lágrimas e uma expressa doce, ela me pediu um beijo carinhoso para poder aguentar mais um dia.

Um comentário:

João disse...

"What's the time? Well It's gotta be close to midnight... My body's talkin to me, it says time for danger! It says I wanna commit a crime, wanna be the cause of a fight. I wanna put on a tight skirt and flirt with a stranger. [...]

In the evening, I've got to roam, can't sleep in the city of neon and chrome... Feels too damn much like like home, when the spanish babies cry. So let's find a bar, so dark we forget who we are, where all the scars from the nevers and maybes die!!"

Lindo texto, Cauê, me lembrou essa música do Jonathan Larson (RENT)...