segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em chafariz

sorriso de quem quer ser feliz
anseio da natureza do desejo
uma flor se abre em chafariz

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sorriso

Sorri
ela ri

Enquanto ela dormia...

Não acorde menina
senão a vida desatina
sonhe comigo bem devarinho
teu sono é um eterno momento de carinho

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O lugar da solidão

Os buracos da calçada eram meu único empecilho. Desviava deles com a destreza de um atleta. É nessas ruas que me chamam que caminho com rumo traçado, olhando para as coisas sem remorso e entusiasmo. Hoje é dia do não. Não quero poesia. Não quero arte. Não quero expressão. Não quero liberdade. Não quero porra nenhuma. Quero apenas calar-me. Encontrar o meu próprio silêncio. Para isso não adianta tapar a minha boca, pois nós conseguimos falar através de outros meios que ultrapassam nossas próprias barreiras, sim, nós somos cretinos. Como não dá para parar os movimentos da vida, procuro um jeito de conseguir, pelo menos, um pouco de calmaria, entrando no botequim mais próximo.
Todos me observam, velhos freqüentadores, erguendo seus copos com cerveja ou qualquer outra coisa, intrigados pela minha peculiar presença. Estou bem arrumado, pois apesar de ainda ser quase noite, hoje é sexta-feira. Acomodo-me em um banco acolchoado, chamo o dono do bar e peço uma cerveja. Sorridente ele traz a garrafa e o copo recentemente lavado e os coloca sobre o balcão, e talvez intrigado pelo meu rosto indiferente, me pergunta o que eu estou fazendo ali. Secamente respondo que aqui é o lugar das pessoas solitárias. Problemas com mulheres, amor ou dinheiro? Diz num tom sério. Não tenho nada disso. Alguém o chama da outra ponta do balcão. Encho o meu copo vazio e tomo o primeiro gole. Logo ele volta. Não se pode ficar assim sendo tão jovem. Agora diz num tom mais descontraído. Talvez, respondo sem querer continuar a conversa. Sorrindo ele se vai. Sem nada para fazer, fico olhando as garrafas, uma ao lado da outra, em prateleiras na parede. Lembranças indesejadas invadem minha mente, e vou apagando-as com mais goles garganta adentro. Vejo as pessoas também sentadas, ninguém olha para o lado, e eu fico aliviado. Com o braço levantado, chamo o dono do bar, que parece um português caricaturado, com o seu bigode gordo e sua pança enorme. Outra cerveja? Faço o sinal de positivo com a mão. Levanto e vou ao banheiro. Mijo e vou direto para o ar livre fumar um cigarro. Fumo tão rápido que não percebo. Volto para o meu lugar e o português parece que me espera. Vá viver rapaz! Diz animado. Onde? O copo cheio encontra a minha boca. Sem a resposta vai atender outro cliente.
Para a minha surpresa (mentira, sempre acontece isso), um bêbado aparece, e sem eu jamais entender o motivo, começa a conversar comigo como se fossemos amigos há muito tempo. Conta-me sobre sua vida, e dali tira suas idéias e teorias sobre as coisas. Apenas concordo com tudo. Chega a me dar conselhos calorosos e totalmente convictos (deveria existir uma ciência sobre isso), alegrando-se da sua sabedoria, ele sorri prepotente. Sem tentar contradizê-lo ou a mim, aceito tudo de bom grado. Procuro o dono do bar e lhe faço um sinal para mais uma cerveja. O bêbado continua a falar e acaba contando alguma história biográfica, e eu acabo me comovendo, apesar de querer tapar os ouvidos. Depois diz que tem que ir embora e se despede de todos. Nada muda. Presto atenção nas garrafas na parede novamente.
Penso que sei o que estou fazendo. Continuo bebendo. Tudo é muito tedioso, mas acho que devo aguentar. Pego um cigarro do maço e de novo vou fumar. Já está de noite. Porém dessa vez não procuro a lua. Não quero falar com ela. Então observo a rua. Distraio-me com qualquer coisa. Fecho as cortinas e me divirto com a ausência de aplausos. Depois espero que os aplausos ecoem, mas o espetáculo ainda não acabou. Como sou tolo. Meus únicos inimigos são as palavras que me traem e assim, começo a dizer. Encaminho-me para o balcão e engulo a minha cerveja na esperança de me calar. Sou um tolo mesmo. Olho para as horas e percebo que tenho que ir embora. Grito pelo dono do botequim que aparece com o mesmo sorriso e peço a conta, ele diz o número, eu lhe dou o dinheiro e me despeço. Já saindo, quase de fininho, vejo uma mulher sentada em uma cadeira de plástico que ficava na calçada esburacada, e a única coisa que posso mostrar a ela é o meu olhar contendo a dor compartilhada por todos que aqui estão. Mas ela sorri. Mais uma vez um tolo. Para um coração canalha, a solidão é a paz que não se quer.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vinheira dos sonhos

um gole de vinho
mais um golinho
um novo mundo descoberto
eu desapareço por completo