terça-feira, 3 de novembro de 2009

Como as pessoas são infelizes

Eu não gosto dela. Mentia, várias vezes por dia. Ninguém gosta de ninguém. Era uma mentira necessária. Para vida continuar. E a avalanche de sentimentos se manifesta, quebrando todas as suas barreiras caindo sobre o cansaço dessa noite. Nessas horas, é extremamente interessante um gole de vinho. Não aqueles vinhos bons e chiques. Aqueles franceses caros, que para mim, tem um gosto horrível, mas para a maioria é delicioso. Não. São aqueles mais doces mesmo. Os mais baratos, com exceção do vinho do Porto. Pego uma garrafa de um vinho do rio grande do sul que está na geladeira. Ele fica esperando momentos como esse. Derramo aquele líquido com cheiro meio estranho em um copo comum. Encho até a boca. E tomo. Uma sensação muito boa aparece. E vai um copo atrás do outro. A visão embaça. E a gargalhada sai mais fácil. E ri sozinho. A sensação vai se intensificando. Já conseguimos esquecer de tudo. Agora, vou dizer verdades para o espelho quebrado. Vou dizer o que eu quiser. E você? Não vai me impedir. Então, vem tudo de uma vez. E fica sem respirar por um momento. E uma raiva muda a expressão de serenidade. Agora, vou mostrar o que você pode esperar de mim. Ameaço quebrar a garrafa. Não! Digo para mim mesmo. Desculpe, querida. Eu não gosto dela, mas eu gosto de você. Não me deixe esperando. Você é minha acompanhante essa noite. Outro copo cheio de vinho invade a garganta. E a euforia já estava demorando. Essa noite, eu fui homem. Quer saber como tive uma noite muito boa? Eu peguei uma mulher hoje. E fui para cama com ela. Foi bom. Fiz tudo com ela, o que eu queria fazer com você. Ela é uma vagabunda. Mas, não tem importância. Mais uma gargalhada. E ri sozinho. Outro copo. É para aguentar. Não sabe mais o que dizer. E agora que a tristeza dá o bote. Ela cai devagarzinho. Como uma folha se desprendendo de uma árvore e flutuando até o chão. E mesmo, sem querer, chora. Lamenta. E lágrimas são suficientes para finalmente fazer o dia nascer. Com ele a dor. Vai rasgando junto com o efeito do álcool. O dia não pode nascer de novo. E bêbado, diz que está preso aqui. E a avalanche de sentimentos se manifesta. Querem te deixar louco. Como estamos escapando? E não esperamos mais nada? Esses sentimentos são metralhados, e seus corpos são guardados na gaveta do armário. E nós escutamos o som do silêncio. Até quando vamos nos proteger? Não conhecemos mais um ao outro. A distância vai falar por nós. E você vai pensar que sabe de tudo. Mas, não sabemos nada. Outro copo cheio de vinho. As lágrimas são enxugadas com cuidado e o dia nasce nublado. Eu queria te oferecer um copo de vinho. Eu sei que aceitaria.

Eu não gosto dele. Mentia, várias vezes por dia. Ninguém gosta de ninguém. Eu preciso dizer que ele não faz parte da minha vida. Nunca daria certo. Nós vamos seguir por caminhos distintos. Então, porque eu me importaria? Preciso dizer que eu não penso mais nele. Porque tenho que repetir tanto? Não me entendam mal. Ele é um cara legal. Porém, não combina comigo. É isso. Estou esperando por alguém que não tem nada a ver com ele. Eu tenho uma lista de qualidades. Ele não tem nenhuma delas. O homem que eu quero precisa ser assim e assado. Sei que é difícil. Mas, o homem perfeito vai aparecer. O que consome toda a esperança desse dia nublado? Ontem, sai com um candidato. Era um homem sério. Mais velho que eu. Tinha experiência de vida. Eu não quero um jovem boboca. Era meio sem sal, mas tinha uma vida sólida e estável. Isso conta muito. Fomos para casa dele e dormi lá. Não me ligou mais. Deixei para lá. Ficava lembrando de momentos felizes. E você estava neles. Não pude deixar de perceber. E você voltava. Não conseguia me livrar de você. O que esperar de nós?
Eu vou para noite. Vou encher a cara e me perder para qualquer um. Muitas luzes. Muita música. Dançava até não agüentar. Os mesmos papos. As mesmas investidas. O que mais esperava ouvir? Com certeza, o homem dos sonhos não estaria aqui. Quem sabe, não posso me divertir? O primeiro que ofereceu um beijo. Ela o beijou. Porque se importar? Pegou quantos pode conseguir. Aquela euforia tomou conta do ego. Eu estou muito bem. Não preciso de ninguém. Quem é você? Acha que pode tirar me liberdade? E já bêbada, diz para o céu que ela é livre. Gargalhou. E sorriu sozinha. Foi embora. E a tristeza foi chegando e a acompanhou até o ponto de ônibus. Subiu com ela. Seria tudo isso um sonho? Ela sentia algo por alguém. Estava com raiva. Não podia ser. Chegou em casa. As lágrimas que sobraram da última chuva começaram a cair do céu nublado. Eu preciso de um abraço. Queria que me fizesse sorrir de novo. E com um sorriso molhado, ela lembrou de você. Viver como nunca antes. O que estou dizendo? Não vou sofrer por ninguém. A distância vai falar por nós. E os sentimentos se calarão. Eles não têm voz aqui. Ela vai se sentir segura. Como todo mundo. O que poderia mudar? Quem vai consolar nossos corações magoados?

Era um lindo dia. O sol tinha aparecido. E inflamava os corações. Muito calor. Era o dia do encontro. A distância não poderia mais falar. Eles ficaram frente a frente. Apenas se cumprimentaram e perguntaram se estava tudo bem. Afirmaram. Sentaram. E começaram a beber. O que mais se poder fazer? Acenderam um cigarro para disfarçar. Não paravam de se olhar. E a avalanche de sentimentos se manifesta. É difícil segurar. Tem que se controlar. Bastaria dizer. Quem sabe o que pode acontecer? O tempo passava. Não sei como aconteceu, mas começamos a conversar. Foi por um breve momento. Porém, os corações ficaram esperançosos. Esboçavam um sorriso. E veio de novo, tudo aquilo que sentiam se transformar em pensamentos, palavras e poesias. As mais lindas que você já leu. E o sol dizia nos nossos ouvidos para nos beijarmos. O vento nos mostrava como devíamos nos tocar. A árvore ensinava a nos olharmos. E lá estavam os olhos, onde mora o amor. E todos eles diziam que nunca viram um dia mais lindo. E a vontade de nos abraçarmos aumentava. Precisávamos nos distanciar de novo. E se quiséssemos viver isso? Acho que não descobrimos o que isso significa. Tenho medo de saber. Pode não ser como uma poesia. Não podemos escrever nossos versos?
O dia foi passando. Ficamos esperando no ponto de ônibus. Demorou. Sentamos lá trás. Estávamos bêbados. E jogávamos palavras ao chão. Falamos muita merda. Depois, veio o silêncio. Uma conversa mais séria. E chego o momento. Aquele que por um segundo não aguentamos. Nesse instante, nos olhamos tão profundamente que acabamos caindo debaixo de nossos beijos. Nos perdemos neles. E ficamos submersos. Sonhando que estávamos felizes. E nossas bocas sempre se encontravam querendo um pouco de paixão. E todos os astros diziam que isso era a felicidade. Quem acreditaria? Já estava chegando no ponto onde ela descia. No outro momento, estávamos arrependidos.
- Vou descer no próximo ponto. – ela disse.
- Ainda não vamos ser sinceros um com outro? – ele disse.
A distância falou por nós.
Eu queria que ela ficasse.
- Adeus. – ele disse.
Eu queria ficar.
- Adeus. – ela disse.

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