sábado, 24 de outubro de 2009

A estrada sem fim

Quando nos encontramos em algum lugar...
Ele estava deitado na cama. Levantou. Espreguiçou. Decidiu. Começou a preparar sua mochila. Colocou algumas roupas, itens de higiene pessoal, alguns livros e outras coisas menos importantes. Vestiu-se depressa. Pegou a mochila. Abriu a porta e olhou para trás. Ela estava deitada na cama. Dormindo. Fechou a porta e saiu. Na cozinha, fez um sanduíche, comeu rápidamente e saiu da casa. Jogou sua mochila no banco de trás do seu mustang 66 conversível. Pulou e caiu na poltrona do motorista. Colocou as mãos no volante e sentiu que ela ainda estava do seu lado. Olhou para a janela do quarto. Ela estava lá. Olhando de volta. Não entendendo o que estava acontecendo. Acho que nem eu. Percebi que estava nervoso e tremendo. Não compreendi. Então, virei-me para frente. Liguei o carro, e sem olhar para trás, pisei no acelerador e o carro disparou.
Havia uma estrada a percorrer. Acreditava que ela não ia aparecer mais. As vezes, dava uma espiada pela retrovisor para ver se ela não estava atrás. Mas, sempre que olhava não havia ninguém. Estava mais calmo. Podia, agora, planejar livremente onde ir, e o que fazer. A gasolina estava acabando. Tinha um posto, um pouco mais para frente. Encostei o carro. Enquanto enchiam o seu tanque, fui até a loja de conveniência. Comprei dois saquinhos de amendoins. Abri o primeiro e comecei a comer. Um de cada vez. O homem que trabalhava no posto e estava enchendo o meu tanque, se aproximou.
- Para onde vai, moço?
- Eu não sei. – respondi.
- Nessa direção não tem nada. – ele disse.
- Seria um bom lugar para ir.
Ele fez uma cara de espanto. Como alguém quer ir para o nada?
- Está fugindo de algo? – ele perguntou.
- Eu não sei. Só quero seguir em frente.
- Mas, senhor. Pense no que está fazendo.
- Já pensei demais. E, por favor, não me chame de senhor.
- E se senhor não voltar mais?
- Não se preocupe com isso. E, não me chame de senhor.
Pulou para o acento do motorista. Deu o dinheiro para o homem, ligou o carro.
- Nós vemos por ai.
Arrancou.
Essa estrada parece não ter fim. Passavam várias cidades. Não parava. Eu não sei. Mas, sentia medo de encontrar. Continuava na estrada. E ela nunca tinha fim. Já estava cansado de dirigir. Comece a procurar um hotel, e avistei um placa com o nome de um motel. Servia. Estacionei. Tem horas que o coração de um homem precisa descansar. Aluguei um quarto. Número sete. Peguei a chave e entrei. Deitei. Apaguei. Logo, acordei. Parecia ter dormido há horas, mas foi só por alguns minutos. A noite ainda estava aqui e ia ficar por um tempo. Não conseguia dormir mais. Eu queria dormir. Tentei. Virava de um lado para o outro. Não conseguia. Desisti. Ficar acordado não era bom. Lembrava de tudo o que já foi. Queria esquecer. Pensava nos fatos passados. Queria retalhos. Queria uma resposta. Porém, mais perguntas chegavam, e eu queria dormir. Sentei na cama. Passei a mão pelos cabelos. Senti um vento, acho que uma cosquinha nas costas. Olhei para trás, e ela estava deitada na cama. Fiquei assustado. Ela estava dormindo. Quando me mostrou com seus olhos castanhos, não aguentei, e sai correndo. Passei na recepeção e joguei a chave no balcão. Disse que não precisava mais do quarto. Pulou no carro e partiu.
Seguia pela estrada que não tem fim. Sua cabeça cambaleava. Dava uns tapas na cara, para ver se acordava. Não conseguiu. Dormiu no volante. Alguém tocava o seu ombro. Acordou. E a viu no meio da estrada. Naquela fração de segundo percebeu que ela mexia a boca, mas sua primeira reação foi desviar. O carro rodou. E parou fora da estrada. Tentou se acalmar e respirou fundo. Tentou ligar. Não ligou. Pulou para fora, quase caindo, estava meio fraco. Começou a correr. Entro em uma floresta. Sempre olhava para trás e nunca via ninguém. Sabia que tinha alguém ali. Desviava das árveres que pareciam entender o que se passava e estendiam seus galhos, mas apenas rebatia-os de volta. Sem querer saber o que eles queriam. E as árvores ficaram tristes. O solo ficou úmido e escorregadio. Corria.
Parou. Havia um rio na sua frente. E sua correnteza estava muito forte. Não havia esse tipo de ponte aqui. Daquelas que atravessam rios assim. Pensava em um meio de ulrapassar esse rio. Chegar ao outro lado. E? Continuar a correr. Voltar a estrada que não tem fim. Mas, sempre, de algum lugar ela surgia. Ela apareceu do outro do lado do rio. Eu ia correr, mas não podia. Não sei de onde vieram tantas árvores. Não conseguiria passar por elas. Peguei aquilo que estava protegendo. Meu coração. Ele batia na minha mão. Tão vivo quanto eu. Ela ficava me fitando. Eu fiz o que tinha que fazer. Joguei meu coração no rio. Ele foi com a correnteza. Desapareceu da minha vista. Ela acompanhou o que eu fiz. Olhou para mim e sorriu. Pulou dentro do rio e desapareceu da minha vista.
... sempre não dizemos nada.

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