Andando pelas ruas, vinha o homem, limpo e bonito, com algumas sacolas nas mãos e com um sorriso no rosto. Ele era católico, mas não do tipo que se diz católico só porque foi batizado, ele rezava todos os dias, freqüentava a missa todo domingo e se confessava regularmente. Em uma dessas missas o padre disse que era bom fazer boas ações, pois facilitaria a entrada da alma no paraíso. Nesse dia de sol, o homem, limpo e bonito ia fazer sua boa ação, se sentia bem, ajudaria alguém.
Sentado no chão e encostado na parede estava o homem, sujo e feio, com uma garrafa de cachaça na mão e os olhos cheios de sono. O homem, limpo e bonito, o viu. Vou começar ajudando esse homem:
- Oi!
- Oi... O que você quer?
- Só queria perguntar se está com fome.
- Estou com muita.
- Eu trouxe nessas sacolas um pouco de comida.
- Ooohhh! Valeu mesmo! - Um sorriso apareceu.
- Não é só isso, trouxe roupas limpas também.
- Não sei como agradecer por essas coisas. Valeu! – Outro sorriso.
O homem, sujo e feio, não contido pela felicidade, esboçou um abraço, mas o homem, limpo e bonito, recuou:
- Não precisa me agradecer. Agora que você está bem, eu tenho que ir.
- Mas vai para onde?
- Eu vou trabalhar.
- Fique um pouco.
- Eu não posso.
- Eu não quero sua pena, eu só quero um pouco de atenção!
- Me desculpe, eu não posso ficar, já estou atrasado e meu chefe vai reclamar comigo.
Mesmo insistindo, o homem, limpo e bonito, deu um seco adeus e foi andando na direção contrária. O sorriso foi embora tão facilmente quanto chegou. Amanhã, estarei com fome, amanhã, minhas roupas estarão sujas, porém uma troca de palavras para acalmar minha alma pode alimentar minhas lembranças. O homem, sujo e feio, foi andando, sem horizonte, falando com o céu, ou talvez, com Deus, Quem é que vai saber?
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