sábado, 6 de novembro de 2010

Samba de maluco

Nos tempos antigos, nos arredores do Eng. de Dentro, de quando nós, os loucos, éramos tratados de uma forma racional, sendo cobaias da ciência, e ignorados pelas pessoas de fora, e também, das de dentro, comecei a andar pelas ruas do hospital, distraído, quando ouvi gritos rasgantes ao longe. Percebi que um paciente estava sendo espancado por dois enfermeiros, seguro por uma camisa de força, e dizendo em uma voz alta que aquele mundo não era nosso. Atrás deles um médico apontava para o lugar onde ele deveria ser levado, para ser tratado a base de eletrochoque. Outro louco, como nós, apareceu assustado e com cuidado me perguntou ao pé do ouvido o que estavam fazendo com ele. Com o mesmo tom de voz baixo, respondi que para o mundo deles, ele ia ser curado.
Como na história nada fica parado, e tudo muda de um certo modo, Nise da Silveira implantou um novo modo de ver a loucura, dizendo que nós poderíamos fazer arte e também parte de algo maior. Agora, tentavam compreender os caminhos confusos de nossa loucura. Trabalhos feitos por nós foram expostos em todas as partes do mundo. E das marcas da morte de uma violência surgiu um amor pela vida perdido por tratamentos convencionais de tempos passados. Da poesia desse mundo maluco, apareceu um sorriso no rosto de cada um de nós, pois é nela que as diferenças se tornam iguais. Derrubando os muros e preconceitos sempre existentes, fazemos todo o ano o nosso carnaval, mostrando o nosso avesso pelo avesso, e encontrando uma felicidade em cantar para, finalmente, nós mostrarmos o nosso mundo. É dessa paixão reprimida que está a força para o começo de um novo samba...

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