sábado, 6 de fevereiro de 2010

O primeiro amor de um menino em um retrato preto e branco

Uma imagem borrada em movimento
pessoas entristecidas pelo tempo
não percebem, não olham, não notam
o menino observando
todos passando

Fragmentos em preto e branco
Partes desconexas de um mesmo ato
desencontros entrelaçados
que surgem da esquina ao lado

Dentro dos porões dessa mesma ditadura
Dentro dos padrões dessa mesma revista
Dentro de um olhar perdido, esquecido
Dentro de um menino

Essas lágrimas escorrem pelas beradas
de um retrato envelhecido
Cores desbotadas e sem brilho
do choro de um menino

Passas largos e rápidos
o silêncio do choro
o menino observando
todos passando

Dentro de um bomba atômica
Dentro de um grito
Dentro da última gota de dor
Dentro de um menino

Parado e ouvindo
o silêncio do choro
o menino observando
todos passando

O retrato está se desfazendo
com um toque do vento
pode desaparecer
pode esquecer

Uma força em volta dos corpos
repelindo, afastando, protegendo
tudo o que restou do vento
desse menino observando
todos passando

E com o sopro do vento
aparece uma menina
ao lado do menino
ficam obervando
todos passando

E com a força desse vento
eles fecham os olhos
seguram a mão um do outro
com a mesma intesidade

Passos largos e rápidos
o silêncio compartilhado
com os olhos fechados
todos passando

E o vento arrasta
o retrato caído
no chão do lamento
Era o primeiro amor de um menino

Mãos dadas
toques desmachados
batidas crescentes
sangue passando
veias pulsando

E o vento passa
olhos abertos
ficam observando
todos passando

Um encontro sem palavras
Um toque sem desculpas
Um gesto com suas asas
Era o primeiro amor de um menino

Uma imagem borrada em movimento
pessoas entristecidas pelo tempo
não percebem, não olham, não notam
O retrato em preto e branco
fica observando
todos passando

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