sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A loucura reprimida

Então doutor, o que eu tenho?
Será que pode ser descrito?
Está em algum dos seus livros?
Você tem algum perfil para minha pessoa?
Talvez alguma filosofia para a minha vida?
Ou alguma patologia para a minha mente?
Com seu rosto sério e óculos estáticos,
será que vai achar alguma saída?

Não tenha medo de se perder
nos meus olhos arregalados
Você é o único que pode dizer
Você é quem manda aqui
Eu sou o resto da sociedade
que grita a sua própria loucura
Para que gritar tão alto?
Se logo, não poderei mais falar

Então, doutor?
Já sentiu essa dor?
Eu sei que você tem
algum remédio escondido
Pode me dar algum?

Elas chegaram na minha vida
Quem disse que eu tive alguma escolha?
Cuidaram da minha flor
Com um sol que não existia
Com as lágrimas de saudade
Minha flor não morreu
Já viu como ela está bem viva?

Sabe, doutor. Acho que as amo.
Tem algum diagnóstico para isso?

Eu não acredtio que essas
sejam suas únicas palavras
Palavras que vão murchando
Elas vão se deteriorando

Você não quer sair daqui?
Está preso em suas fortes convicções
Está enterrado nesse hospício
Sua vida se foi para tão longe?
Você não quer sair daqui?

Não precisa dizer mais nada
Dos choques na cabeça
Na mordaça na boca
Na cura dos doentes
No isoloamento dos loucos
Todos vão ficando mais sãos

Me diga, doutor, o que estamos fazendo aqui
enquanto o dia está lindo lá fora?

O que foi doutor?
Ela se suicidou, não foi?
Será que ela era louca?
O que?
Está chorando?
Pensei que psiquiatras não choravam
Pensei que isso fosse exclusivo dos loucos


Obs: Inspirado pelo filme Garota Interrompida

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