segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Na sombra dessas mulheres

Velhas palavras para velhos amigos

Era a solidão de um homem retraído pelo imenso mundo criado pela sombra dessas mulheres que o acompanham. E o samba tocava no fundo com sua melodia querendo falar dessa delicada tristeza que caía sobre esse homem perdido. O salão estava cheio, mas não lotado. E todos escutavam a música com suas latinhas de cerveja na mão e seus pés ainda no chão. Um grupo com seus instrumentos hipnotizantes tocava e cantava com tanta leveza que suas palavras se espalhavam pelo salão. Porém, para um homem, essas palavras tinham um peso que endurecia seus ombros. Ele ficava quieto, bebendo sua cerveja e esperando que ela fizesse efeito logo.
E nesse lugar, a toda hora, passavam para lá e para cá, lindas mulheres de um charme que elas próprias nem conhecem. Ele conversava com seus amigos sobre o que ele queria de tudo isso. Dizia sobre o que ele queria dessas mulheres que trocavam olhares dispersos com ele. Dizia que não conseguiria. Dizia que explodiria. É muita aflição quando as palavras são ditas em vão. Queria dizer que ele estava ali para muito mais do que apenas um homem que entenderia. E continuava a tomar sua cerveja, pois aqui, não tinha mais nada a fazer. Seus amigos o escutavam com muita emoção e queriam fazer alguma coisa para acabar com essa acomodação. Mas sabiam que uma gota de timidez no mar de uma paixão reprimida era suficiente para apagar a chama que com muita dificuldade foi acessa.
E passavam essas mulheres. Queria esticar o braço para apanhá-las, e talvez, trocar duas palavras. Mas seus olhos inertes não atraíam a atenção de nenhuma. No salão, ele ficava passeando pelos grupos de pessoas que conhecia. E tomava mais cerveja para que a tradição não fosse quebrada. Com o passar do tempo, ele ia desistindo de sentir alguma felicidade que assombrava seus sonhos. E na sombra dessas mesmas mulheres, ele ficava cada vez mais encolhido no seu canto. Afastado de tudo. Apenas ficava observando e tentando sorrir para aqueles que se importavam.
E depois de muita cerveja, os pés das pessoas começavam a sair do chão para dançar de alegria. E todos os seus amigos fizeram o mesmo. Ele ficava lá, tentando acompanhá-los. Mexia um pouco os pés no ritmo de uma música qualquer. E se animava um pouco com essa energia desse ritual incompreendido. E os pares começavam a se formar. Ele queria pegar na mão de uma mulher e convidá-la para dançar, tocar na sua cintura e fazer um dois para lá, dois para cá. Mas, ele não sabia dançar. E isso, o fazia criar toda uma impossibilidade de acontecimentos. E ficava apenas observando. Perguntava para suas amigas, mas não recebia qualquer resposta. E dizia que terminaria sozinho. E a solidão era a única que o acolhia e o chamava para dançar.
E todos diziam que ele tinha que agir. Ah... Como ele queria conhecer qualquer mulher que transforme tudo aquilo retido dentro dele mesmo. Conversar com ela sobre qualquer coisa que lhe vinha na cabeça. Fazer com que ela desse pequenos risinhos. E se sentir tão bem que poderia abrir seu coração para ela e poder conhecer os seus traços mais íntimos. Se nenhuma dessas mulheres mostrarem um pouco de amor, como ele poderá conhecer o amor? É na sombra dessas mulheres que seu amor tímido fica escondido.

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