terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O relógio e o menino

Procurava o brilho de nenhuma estrela no céu de fachada
apenas observava o brilho estridente de uma rajada
nessa mesma hora batia o sino pequenino de Belém
na madrugada da rua escura não nascia ninguém

a astúcia abrupta de sua malandragem estufava no peito
a imensa estúpida coragem talvez lhe impusesse respeito

Correu como menino que era
através das dobras e trevas
raptou aquilo que não era seu
um relógio da herança de quem já morreu

Atravessou a noite, pasmo, de sua aventura impura
cortou as amarras, casco, de sua candura pura
desviou de obstáculos, nulo, de seu obscuro
trilho o caminho, rindo, do seu umbigo

despejou os quilos de pedra dos decretos de leis
mergulhou de um vez nas amargas águas desses reis

Correu como menino que era
através das dobras e trevas
carregando um objeto de valor
causando os rebuliços da dor

Voou pela beirada da calçada de uma ingrata sociedade
deixando escapar o prêmio da mísera eternidade
fugiu das garras de uma repressão atrasada
que se aproximava com a raiva arrastada

o equilíbrio se foi na hora que o relógio caiu
ninguém acreditou no que viu e no que ouviu

Sobreviveu como forte que era
através do choque com a rua deserta
foi carregado nos braços todo quebrado
levado as pressas para algum reparo

Lá disseram que tinha conserto
não tinha perdido o seu valor
todos acordaram para o seu alívio
desaparecendo o resto do pavor

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