Procurava o brilho de nenhuma estrela no céu de fachada
apenas observava o brilho estridente de uma rajada
nessa mesma hora batia o sino pequenino de Belém
na madrugada da rua escura não nascia ninguém
a astúcia abrupta de sua malandragem estufava no peito
a imensa estúpida coragem talvez lhe impusesse respeito
Correu como menino que era
através das dobras e trevas
raptou aquilo que não era seu
um relógio da herança de quem já morreu
Atravessou a noite, pasmo, de sua aventura impura
cortou as amarras, casco, de sua candura pura
desviou de obstáculos, nulo, de seu obscuro
trilho o caminho, rindo, do seu umbigo
despejou os quilos de pedra dos decretos de leis
mergulhou de um vez nas amargas águas desses reis
Correu como menino que era
através das dobras e trevas
carregando um objeto de valor
causando os rebuliços da dor
Voou pela beirada da calçada de uma ingrata sociedade
deixando escapar o prêmio da mísera eternidade
fugiu das garras de uma repressão atrasada
que se aproximava com a raiva arrastada
o equilíbrio se foi na hora que o relógio caiu
ninguém acreditou no que viu e no que ouviu
Sobreviveu como forte que era
através do choque com a rua deserta
foi carregado nos braços todo quebrado
levado as pressas para algum reparo
Lá disseram que tinha conserto
não tinha perdido o seu valor
todos acordaram para o seu alívio
desaparecendo o resto do pavor
Nenhum comentário:
Postar um comentário